terça-feira, 4 de junho de 2013

O problema é do pseudônimo, não é meu.




Já aviso de antemão: este texto "pica of galaxies" não é meu. Gostaria muito de tê-lo escrito, mas sua autoria pertence ao amigo/colega/companheiro de Sociedade Racionalista, o srto. Kaio Cid Barba Negra do Rio Costa. Se alguém quiser adicionar o meliante (Tem cara de mal, barbudo from hell, mas é gente boníssima), eis seu facebook: https://www.facebook.com/KaiooCosta.

Eu queria ter um robô.

Eu queria assumir um pseudônimo. Um pseudônimo na vida toda. É, eu queria esconder. Queria esconder como me sinto mal em ver preconceitos, injustiças, corrupções. Não só a corrupção estatal e a corrupção do político, mas também a corrupção moral, a corrupção estética, a corrupção pessoal.

Por que eu queria ter um robô? Porque robôs, teoricamente, são programáveis. Até mesmo o preconceito do robô. Ele é assim porque alguém o fez assim e ele não tem culpa. Nós não! Nós temos culpa, todos nós. Nós temos culpa pela falta de educação, pela saúde precária, pelas lâmpadas na cara e pelos chutes na bunda, pelo dinheiro na cueca; nós temos culpa.

Queria que todos aqueles que perderam alguns minutos do seu dia em ler esse texto, pensassem em todas as citações acima, e em vez de pensarem no “eu”, pensassem no “nós”. Porque, aí sim, não serei “eu” que resolverei o problema desse país; seremos “nós”.
O “nós” é sempre mais forte.

Nós temos culpa por sermos assim; por criticarmos aqueles que querem mudar, e aplaudirmos aqueles que se mantêm como nós, parados. Ficar parados é do que gostamos. Afinal, mudar dá muito trabalho. Se o troco veio errado, e daí!? Não é problema meu. Se alguém apanha na rua por sua orientação sexual, e daí!? Eu não conheço. Se a mulher é estuprada, e daí?! Quem mandou sair de saia curta? É assim, é simples assim; se não é comigo, o problema é dos outros, e se é comigo, o problema é o país.

Esse país que não vai pra frente, esse jeitinho brasileiro é o que estraga, esses políticos corruptos; nunca eu. O problema do país são os cotistas, são os comunistas, são os ateus, são os gays, os índios, as feministas, o bolsa família. O bolsa família é um grande problema, porque ensinar a pescar é o que importa, mesmo que não exista a isca para isso. Mas eu? Não, de forma alguma! O problema desse país não sou eu.

Porque eu estou na moda, e tudo que é meu é mais legal, mais útil, mais bonito. Afinal, gostamos de coisas bonitas. A mulher brasileira é a mais bonita do mundo, nós temos as mais belas paisagens naturais… O nosso futebol? É lindo, maravilhoso! Nossa cerveja é a mais gelada, nossos campos têm mais flores; nosso carnaval… Ah, o carnaval. Quem dera se a nossa capacidade de contar vantagem fosse equivalente ao nosso esforço de transformar tudo isso em realidade.

O que importa mesmo é o fim da novela, o fim do programa de TV, o fim da jornada de trabalho. Isso importa! Porque eu, eu acordo às 4 da manhã para trabalhar e vou de “busão” lotado, amigo! Eu não quero saber de política; política só tem ladrão! Eu quero é saber quem será o campeão, quero saber quem tem a bunda mais bonita, quero saber o número da Mega. Afinal, eu também sou filho de deus.

Calma, não precisa xingar a mãe. Eu prefiro que os meios de comunicação sejam de massa, isso é melhor que se fossem de elites. Aquelas elites, elites que eu nunca vi, mas sei que existem; afinal, minha vida não pode ser tão ruim assim por culpa minha. Lembra? A culpa nunca é minha! A culpa é da constituição! Constituição que diz que tem que se tratar bem bandido. Bandido bom é bandido morto; mas claro, isso só vale para aqueles que eu não conheço, que não são da minha família, porque se forem… Ah, se forem da minha família, a culpa é da policia. A polícia corrupta, polícia que sobe o morro pra pegar propina, que mata as crianças. Tudo bem, se forem crianças que vendem as balas no farol e me atrasam pro jantar, tudo bem; estes deveriam morrem, mesmo, mas se forem as crianças que eu conheço; ah não, aí o problema é da educação! Educação que falha, escola que não tem professor, professor que “não tá nem aí”, escola que não tem merenda. Porque todos têm direito a alimentação; menos aqueles que recebem o bolsa família, afinal, precisam ser independentes do Estado; ainda mais porque pobre sempre tem muito filho, e isso é um problema! Porque se fez filho, tem que criar! O aborto é errado, é imoral, é ilegal. Não se pode acabar com uma vida assim, em hipótese alguma; sim, eu sou pró-vida, mas só quando me agrada ser. Na fila do banco, todos deveriam morrer; o que esses idosos estão fazendo aqui?! Deveriam estar no asilo, internados; idoso não produz, não consome, é ruim pra todo mundo, é ruim pro Estado.

“Estado” parece uma piada pronta quando eu conto para os meus amigos no bar, piadas… Piadas são só piadas; se você não tem senso de humor, você é um politicamente correto. E se tem “politicamente” no nome, eu já sei que é ruim. Podem fazer piada sobre mulheres sendo estupradas, sobre negros escravos e gays inferiores, mas não façam piadas do meu time, nem da minha religião e nem do meu preconceito. Por que se fizerem piadas disto, a culpa é de vocês!

É por isso que eu queria ter um pseudônimo. Eu queria esquecer que eu tenho um nome, queria esquecer o “eu” e começar a ser o “nós”. Queria que todos nós fôssemos “nós”, fôssemos “um” e não “alguns”. Queria que esses exemplos fossem só mera articulação literária, queria que fosse só um jogo de palavras, mas não, não é.

Eu queria ter um robô, eu queria ter um pseudônimo, eu queria ter um país.



Picas, non?

A publicação inicial foi no Histeria, que é foda (e eu faço parte :P) , acessem:

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