quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Magnetosfera, Apedeutas, Auroras polares austrais saturninas, Vento Solar, Fotos Fake e o Hubble.

Incrível como a ignorância de uns pode irritar outrem. Principalmente quando essa ignorância vem aliada de um ceticismo estúpido, preguiça e elevado grau de certeza equivocada do maldito apedeuta afirmador. 

Não que ache o ceticismo algo ruim, muito pelo contrário. Acredito que o ceticismo é uma fantástica característica pessoal, que não só nos permite descobrir sobre o mundo natural, agindo também como fator de proteção contra espertalhões que utilizam de sua má-fé e mentiras para obter vantagem para si. Uma mínima dose de ceticismo pode proteger alguém de realizar uma compra de um veículo com vários problemas mecânicos, ou ainda ser vítima de golpes de estelionatários, evitando assim enormes prejuízos. 

E a preguiça? A preguiça geralmente é sempre prejudicial, impedindo a tomada de atos muitas vezes necessários. Mas não vou condenar os preguiçosos não. Mesmo com estes contras, a preguiça já se transformou até em modo de levar a vida, nomeada procrastinação, da qual devo admitir ser um grande fã e fiel adepto. Mesmo que a preguiça seja considerada um pecado capital pela maior instituição religiosa da sociedade ocidental, devo dizer que não dou a mínima para leis morais escritas por tribos bárbaras judaicas da idade do bronze ou eremitas da idade média. Sigo a moralidade atual, que apesar de baseada naquela, teve grandes evoluções nas épocas modernas, e muitas vezes, minha própria moralidade. 

Bem, o motivo da irritação profunda foram comentários afirmando ser “Fake” (Montagem, manipulação, mentira) uma foto que mostrava uma aurora no planeta Saturno, imagem esta feita pelo espectrógrafo do telescópio Hubble, em frequência de luz ultravioleta, em 28 de Janeiro de 2004. A imagem é a que segue:


Posso especular as motivações que levam os pobres néscios a afirmar, com tamanha convicção, que uma foto desta seja falsa. O próprio aspecto da aurora, a definição da imagem e tamanho do planeta, o fundo onde faltam as estrelas, etc. Mas isso é apenas reflexo de desconhecimento dos fenômenos naturais e tecnologias utilizadas para obtenção de tal imagem. Ao invés de absorver a irritação, e talvez no futuro me tornar o protagonista de “Um dia de fúria” ou de “God Bless America”, resolvi transformar minha indignação com a tolice alheia em algo mais proveitoso, uma breve explicação dos fenômenos naturais, à luz do entendimento atual da ciência. Não adentrarei nos aspectos fotográficos, em decorrência de minha natureza procrastinadora, e também serei o mais breve possível. 

A aurora polar é um fenômeno óptico composto de um brilho observado nos céus noturnos nas regiões polares, em decorrência do impacto de partículas de vento solar e a poeira espacial encontrada na via láctea com a alta atmosfera da Terra, canalizadas pelo campo magnético terrestre. O fenômeno não é exclusivo somente à Terra, sendo também observável em outros planetas do sistema solar como Júpiter, Saturno, Marte e Vênus. A aurora polar terrestre é causada por elétrons de energia de 1 a 15 keV, além de prótons e partículas alfa, sendo que a luz é produzida quando eles colidem com átomos da atmosfera do planeta, predominantemente oxigênio e nitrogênio, tipicamente em altitudes entre 80 e 150 km. Cada colisão emite parte da energia da partícula para o átomo que é atingido, um processo de ionização, dissociação e excitação de partículas. 


Quando ocorre ionização, elétrons são despejados do átomo, os quais carregam energia e criam um efeito dominó de ionização em outros átomos. A excitação resulta em emissão, levando o átomo a estados instáveis, sendo que estes emitem luz em frequências específicas enquanto se estabilizam. Enquanto a estabilização do oxigênio leva até um segundo para acontecer, nitrogênio estabiliza-se e emite luz instantaneamente. Tal processo, que é essencial para a formação da ionosfera terrestre, é comparável ao de uma tela de televisão, no qual elétrons atingem uma superfície de fósforo, alterando o nível de energia das moléculas e resultando na emissão de luz. 


Tanto Júpiter quanto Saturno também possuem campos magnéticos muito mais fortes que os terráqueos (Urano, Netuno e Mercúrio também são magnéticos) e ambos possuem grandes cintos de radiação. 

O efeito da aurora polar vem sendo observado em ambos, mais claramente com o telescópio Hubble. Tais auroras parecem ser originadas do vento solar. Por outro lado, as luas de Júpiter, em especial Io, também são fontes poderosas de auroras. Elas são formadas a partir de correntes elétricas pelo campo magnético, geradas pelo mecanismo de dínamo relativo ao movimento entre a rotação do planeta e a translação de sua lua. Particularmente, Io possui vulcões ativos e ionosfera, e suas correntes geram emissão de rádio, que vêm sendo estudadas desde 1955.

Como as terrestres, as auroras de Saturno criam regiões ovais totais ou parciais em torno do polo magnético. Por outro lado, as auroras daquele planeta costumam durar por dias, diferente das terrestres que duram por alguns minutos somente. Evidências mostram que as emissões de luz nas auroras de Saturno contam com a participação da emissão de átomos de hidrogênio. 

Uma aurora foi recentemente detectada em Marte pela sonda espacial Mars Express durante suas observações do planeta em 2004, com resultados publicados no ano seguinte. Marte possui um campo magnético mais fraco que o terrestre, e até então pensava-se que a falta de um campo magnético forte tornaria tal efeito impossível.Foi percebido que o sistema de auroras de Marte é bastante parecido com o da Terra, sendo comparável às nossas tempestades de baixa e média intensidade. Como o planeta está sempre direcionado para o nosso planeta com seu lado diurno, a observação de auroras é somente possível através de espaçonaves investigando o lado noturno do planeta vermelho e nunca a partir da Terra. 

Vênus, que não possui um campo magnético, apresenta também o fenômeno, no qual as partículas da atmosfera são diretamente ionizadas pelos ventos solares, fenômeno também presente na Terra. 

Diante da explicação acima, que resta da possível atribuição de falsidade a uma fotografia de Saturno em que aparece uma aurora? Respondo: Resta o desconhecimento e a preguiça de procurar. 

O Google e Wikipédia facilitam bastante esse trabalho, só resta saber como procurar e checando sempre as referências, além de demais fontes distintas. 

 REFERÊNCIAS

1. http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/solar/sataur.html 
2. http://www.nasa.gov/mission_pages/cassini/media/cassini-20081112.html 
3. http://www.nasa.gov/mission_pages/cassini/main/index.html 
4. http://pt.wikipedia.org/wiki/Aurora_polar 
5. http://pt.wikipedia.org/wiki/Vento_solar 
6. http://pt.wikipedia.org/wiki/Campo_magn%C3%A9tico_terrestre 
7. http://pt.wikipedia.org/wiki/Magnetosfera

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